A Feira Gastronómica do Porco tem um grande significado para a economia local, em especial para aqueles que continuam a criar o porco e a fazer enchidos da forma tradicional. Prova disso é a participação no certame de cerca de meia centena de produtores, aos quais se juntam 20 stands de exposição e venda de artesanato. Os restaurantes do concelho de Boticas também se associam à feira, incluindo nas suas ementas pratos à base da carne do porco.
As ofertas gastronómicas do Concelho são vastas e a sua qualidade reconhecida internacionalmente. A ela se associam de imediato a vitela Barrosã, o famoso cozido à moda do Barroso, os enchidos, o presunto, o “Vinho dos Mortos” e o "Mel de Barroso". Habitantes ancestrais das terras altas do Norte de Portugal, os bovinos barrosões são herdeiros naturais de um património genético único.
Referência emblemática da bovinicultura portuguesa, a Raça Barrosã distingue-se de todas as outras pela lira alta da sua cornamenta, a sua harmonia de formas e pela famosa e inigualável carne que produz. Manjar de Reis no passado século, hoje, mercê do rigoroso controlo com que é seleccionada e criada, está à disposição de todos, tendo a sua carne Denominação de Origem Protegida (D.O.P.). Pode dizer-se que depois do pão, o porco é o alimento principal das refeições do transmontano.
Todos apreciam o salpicão, os rojões, a grande variedade de enchidos, os presuntos cheios de pique e notável sabor, que tão aprazível gosto possuem para o palato humano. O calor que vem das lenhas e pedras das lareiras das cozinhas montanhesas confere-lhes um aroma e sabor inconfundíveis. Esta excelência conduziu já à protecção (Indicação Geográfica – IG) de um conjunto de produtos, nomeadamente enchidos e fumados, cuja reputação ou características podem ser atribuídas à região de Boticas.
Ao se ouvir falar em “Vinho dos Mortos” associa-se de imediato a designação ao Concelho de Boticas. Tal terminologia tem despertado o interesse de numerosos estudiosos e não deixa indiferente o mais comum dos mortais, que de imediato se lança em inúmeros raciocínios, procurando “desvendar” o mistério e descobrir a origem de tal terminologia. Entre as várias explicações existentes para esta denominação surge uma que, pela precisão com que se refere a factos históricos e pela comprovada veracidade científica do processo, tem vindo a ganhar terreno.
Esta história leva-nos até ao ano de 1807, altura em que as tropas francesas, comandadas pelo general Soult, invadiram pela segunda vez Portugal. Quando os franceses invadiram a região, o povo, com medo que estes lhes pilhassem as suas colheitas e os seus outros bens, escondeu o que conseguiu, usando das formas mais expeditas: o vinho foi enterrado no chão das adegas, no saibro, debaixo das pipas e dos lagares. Mais tarde, depois dos franceses terem sido expulsos, os habitantes recuperaram as suas casas e os bens que restaram. Ao desenterrarem o vinho, julgaram-no estragado. Porém, descobriram com agrado que estava muito mais saboroso, pois tinha adquirido propriedades novas. Era um vinho com uma graduação de 10º/11º, palhete, apaladado, e com algum gás natural, que lhe adveio da circunstância de se ter produzido uma fermentação no escuro e a temperatura constante. Por ter sido “enterrado” ficou a designar-se por “Vinho dos Mortos” e passou a utilizar-se esta técnica, descoberta ocasionalmente, para melhor o conservar e optimizar a sua qualidade. Assim, nasceu uma tradição de “enterrar” o vinho pelo menos durante um ano, que se foi transmitindo de geração em geração.
Hoje são já poucos os agricultores que mantêm viva esta tradição, sendo certo, todavia, que são as vinhas sobranceiras à Vila de Boticas e da Granja, nas encostas aí existentes, que possuem as condições de clima e solo adequadas à produção deste precioso vinho, o qual, não sendo abundante, tem no entanto sabor agradável que bem merece ser apreciado.
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